domingo, 14 de julho de 2013

TREZENTAS ONÇAS E ALGUNS PENSAMENTOS


 
Taiasmin Ohnmacht

 

Conto escrito em 2012, em homenagem ao centenário da publicação do livro

 Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto.

 

Muitos livros sobre a cama. Época de provas. Na escrivaninha, Cassandra se debruçava sobre um deles, em suas páginas figuras de estruturas cerebrais expostas. Quantas palavras a decorar! Córtex, lobo parietal, astrócitos.

Desanimada e pouco concentrada, Cassandra começou a divagar. Pensou no convite que recebeu de Mônica, colega de trabalho, para ir a um CTG. Não sabia dançar vanerão, xote ou qualquer dança típica, mas não era a primeira vez que ia a um baile gauchesco, sempre divertidos.

Lembrou-se de palavras como cusco, zaino, guaiaca e da professora Alice, exigindo a leitura de Simões Lopes Neto, ainda na época do colégio. Cassandra a odiou a cada palavra que não entendeu do texto. Chegou a pensar na possibilidade de não ler o conto. No entanto, foi insistindo, atropelando as palavras desconhecidas e buscando o contexto. De repente:

“(...) não senti na cintura o peso da guaiaca!”

Algo fisgou Cassandra.

“Tinha perdido trezentas onças de ouro que levava (...)”

A leitura se tornou ávida e, paralela à desventura do personagem, ela foi lembrando-se de um momento da sua própria vida, quando reuniu o dinheiro de vários colegas e comprou comes e bebes para a comemoração de fim de ano. A sensação horrível e jamais esquecida de olhar para a carteira vazia no momento de pagar a conta. Confusão, pânico e vergonha.

Cassandra foi roubada, sempre suspeitou de algum colega do colégio mesmo. Em nenhum momento passou a ideia dramática do suicídio por sua cabeça, mas foi Pedro, seu pai, quem garantiu um final honroso ao caso, repondo o dinheiro roubado.

- Suicídio, cabeça, tiro...Ah, estruturas cerebrais! Onde eu estava com a cabeça? Preciso estudar. – pensou Cassandra.

A sua frente, focou novamente a anatomia que se apresentava em formas e termos estranhos.

Bom, na época, ela conseguiu terminar de ler o conto, e com prazer, o que era melhor. Pensou em quanto tempo não fazia uma boa leitura. Levantou, foi até a estante e encontrou o livro. Que boa sensação tê-lo nas mãos! Sabia que tinha de estudar, mas seria bem rapidinho. Afastou os livros técnicos, deitou na cama, ligou a luz de cabeceira e

“Eu tropeava, nesse tempo.”

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