quinta-feira, 13 de junho de 2013

ESCONDERIJOS


Taiasmin Ohnmacht

 


Que gata? Ou foi um equívoco ou pura sacanagem. Grande coisa! Nem toda ordem é para ser cumprida. E ele sentou entre os carros e começou a fumar. De quanto tempo precisaria para fazer parecer que procurou? Ainda disseram, não mata, nem judia. Não é qualquer vira-lata. Incomoda, mas é a persa da moradora do 301. É claro que ele não iria feri-la, sequer iria caçá-la!

Moradores começaram a encontrar restos de comida junto ao carro e dentro do capô. A adolescente do 301 comunicou ao condomínio que sua gata branca fugira do apartamento e pediu que ajudassem a encontrá-la. Logo a gata passou a ser a primeira suspeita.

Pouco importa, quem está preocupado com gatos e carros? Cada um que se vire com seus problemas. Ele fora contratado apenas como porteiro da noite. Uma noite sim, uma não. Identificando pessoas e veículos e esperando as horas passarem. Ninguém falou em gatos, tinha que se preocupar apenas com gatunos, o que já era trabalho suficiente!

Pelo menos a tarefa permitiu a ele fumar um bom cigarro e se desligar das noites de vigília. Nada para olhar e ninguém para vê-lo. Por que a gata? Teriam encontrado um pelo branco para incriminá-la? Poderia ser um rato. Se fosse no seu carro, estacionado na frente de sua casa, pensaria primeiro em um rato. De qualquer modo, a verdade era que estava ali tranquilo, em plena madrugada e fumando o seu cigarrinho.

Ele gostava de identificar os carros, as marcas, apreciava as cores e os modelos. Na garagem, olhava-os pensando em quanto dinheiro estaria ali guardado. Fosse gato ou não, tinha bom gosto. Melhor estar no motor de uma daquelas máquinas do que na cama de uma adolescente chata. Quer dizer, mais ou menos, na verdade com a vigilância de sua esposa e a anêmica renda, não teria nem um daqueles carros, nem a cama de qualquer outra mulher.

Olhou o relógio, melhor voltar. Levantou-se e sentiu uma vontade irresistível de urinar. Mirou na roda do Mercedes Benz, mais uma na conta da gata.

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