quinta-feira, 27 de junho de 2013

IMAGENS

O vento corre
e o tempo não para.
Vamos numa estrada acelerada
sem qualquer zona de conforto.
Se aproxima o confronto
entre judeus, americanos e árabes
e Deus não entende
como foi convocado para tal guerra.
O amor foge por entre os dedos,
se concentra no espelho.
Os teus olhos são cegos por reflexos
de um monitor de imagens velozes.
A inteligência é artificial,
enfim, um bom conceito para tal.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

ESCONDERIJOS


Taiasmin Ohnmacht

 


Que gata? Ou foi um equívoco ou pura sacanagem. Grande coisa! Nem toda ordem é para ser cumprida. E ele sentou entre os carros e começou a fumar. De quanto tempo precisaria para fazer parecer que procurou? Ainda disseram, não mata, nem judia. Não é qualquer vira-lata. Incomoda, mas é a persa da moradora do 301. É claro que ele não iria feri-la, sequer iria caçá-la!

Moradores começaram a encontrar restos de comida junto ao carro e dentro do capô. A adolescente do 301 comunicou ao condomínio que sua gata branca fugira do apartamento e pediu que ajudassem a encontrá-la. Logo a gata passou a ser a primeira suspeita.

Pouco importa, quem está preocupado com gatos e carros? Cada um que se vire com seus problemas. Ele fora contratado apenas como porteiro da noite. Uma noite sim, uma não. Identificando pessoas e veículos e esperando as horas passarem. Ninguém falou em gatos, tinha que se preocupar apenas com gatunos, o que já era trabalho suficiente!

Pelo menos a tarefa permitiu a ele fumar um bom cigarro e se desligar das noites de vigília. Nada para olhar e ninguém para vê-lo. Por que a gata? Teriam encontrado um pelo branco para incriminá-la? Poderia ser um rato. Se fosse no seu carro, estacionado na frente de sua casa, pensaria primeiro em um rato. De qualquer modo, a verdade era que estava ali tranquilo, em plena madrugada e fumando o seu cigarrinho.

Ele gostava de identificar os carros, as marcas, apreciava as cores e os modelos. Na garagem, olhava-os pensando em quanto dinheiro estaria ali guardado. Fosse gato ou não, tinha bom gosto. Melhor estar no motor de uma daquelas máquinas do que na cama de uma adolescente chata. Quer dizer, mais ou menos, na verdade com a vigilância de sua esposa e a anêmica renda, não teria nem um daqueles carros, nem a cama de qualquer outra mulher.

Olhou o relógio, melhor voltar. Levantou-se e sentiu uma vontade irresistível de urinar. Mirou na roda do Mercedes Benz, mais uma na conta da gata.

domingo, 9 de junho de 2013

CONTOS CURTOS

Taiasmin Ohnmacht
 
 
Em silêncio trabalhava.
Despesas, lucros, receitas líquidas e variáveis, ativo, passivo.
A nova assistente entrou na sala e alcançou-lhe os balancetes. Com o olhar, acompanhou sua saída. Depois, distraído, voltou aos cálculos:
1+1=2
 
 
II 
Janeiro
Carmela acordou e calçou o par de chinelos ao lado da cama. Com desânimo, levantou para mais um dia de trabalho.
            Abril
Ao lado da cama, dois pares de chinelos misturados. Carmela espreguiçou-se feliz. O relógio pedia pressa, mas ela resolveu ignorar.
            Novembro
Carmela amanheceu de uma noite mal dormida. A cama fria, grande e vazia. Sentou e calçou o chinelo.
 
 
III
 
Era preciso ser rápido e ter força. Trabalho pesado, suor e às vezes dor. Ele se esforçava para fazer o melhor, mas o reconhecimento do patrão era mirrado. Tudo por um prato de comida e um pedaço de chão. De qualquer modo, não conhecera outra vida e até gostava de andar na rua, é claro que não avaliou os riscos. As quatro patas fraturadas no meio do asfalto davam a dimensão da tragédia.
 
IV
 
 
Olhou o casal. Na precipitação, um guarda-chuva para dois. A ternura da cena evocou-lhe um vazio. Continuou seu caminho pisando em poças d’água, tentativa de afogar a certeza de um rompimento.
 
 
V
 
 
Conduziu bem sua vida. Amou, juntou bens, e até teve alguns desafetos. Quando chegou aos cinquenta anos, não mais violou, roubou, matou. Desfrutou bem de seus anos de aposentadoria. Era um homem bem sucedido.
                                                                           
 


terça-feira, 4 de junho de 2013

PEQUENA CANÇÃO

Taiasmin Ohnmacht
 
 
Um amor de homem.
Que sorte
Encontrá-lo na madrugada,
Sem nada,
Ninguém para chamá-lo de seu.
É meu,
Seu coração e seu jardim.
Enfim,
Um amor e uma cabana
Sem grana.
Esse amor é um sacrifício,
Um vício.
Quero ver na hora da fome,
Que sobre
A cama toda revirada.