Taiasmin Ohnmacht
Eu o desejo amante de um
amor já perdido. Sou daquelas pessoas que inventam amores e que desejam o
desejo.
Não
quero falar dos motivos, nem saberia. Quero dizer que imagino, ao lado dele, um
mundo à parte, protegido do cotidiano. Não suporto dias previsíveis, nem vida
repetitiva. Quero ser arrebatada por algo incontrolável, que me tire do eixo e
me torne outra, porque tem algo em mim que eu mesma não aguento.
Ele
deixou visível uma intimidade com a namorada e eu comentei. Sim, fui
inconveniente. Sim, me excedi. Sim, quero entrar pelas frestas que há entre os
dois e sorver os fluídos que trocam, quero ser ela e ter o melhor dele, quero
ser ela e deixar de ser também.
(e aquele que se chama
meu marido ignora o meu desejo. Ele pensa que sabe e atende ao que pensa que eu
quero. Saberia um pouco mais se me escutasse)
Espero
todos os dias pelas palavras que ele digita, que os seus dedos se acomodem em
meu corpo e encham meu corpo/copo de perguntas bobas, de perguntas vazias, de
um querer que me tome.
Essa
mania de inventar amores sempre acaba me deixando com um gosto amargo na boca.
É bom que eu me lembre: não sou uma opção para ele (nem ele para mim), posso
ser um acidente, não uma opção.
Não
conseguimos ser nem amantes, nem amigos. O carinho que temos, o gosto por
conversar e as afinidades, são contaminados pela atração. E toda palavra tem
mais de um sentido, e lemos os vários sentidos fingindo não ler, e gozamos
nossa fingida seriedade e gozamos. Estou intoxicada dele, estou intoxicada com
meu desejo. Ao não consumi-lo, consumo a mim.
Entre
conversas e silêncios, vou compondo minha idealização. Todas as conversas com
ele são belas, mas às vezes terminamos mais amigos que amantes e não sei se me
agrado. Sexo com ele é uma fantasia, talvez unilateral, mas o que mais me
encanta é pensar que ele possa me desejar, que eu possa seduzi-lo. De qualquer
modo, é possível que exista mais sexo em nossas conversas do que jamais poderia
se dar em um encontro físico.
Agora
dei para ter ciúme dele! Não é exatamente de outras mulheres, mas de que ele
encontre vida em outro lugar que não seja em mim. Esse é um mal do qual padecem
todas as mulheres, sobretudo as apaixonadas.
Escrevo
essas linhas para perverter desencontro em encontro, com o açoite da palavra.
Talvez aqui eu tenha o que essencial dele e que só possa ser encontrado em mim.
Hoje
pensei estar livre dele, mas percebi que não, estou apenas longe. Suspeito que
ele seja o próprio desejo. Às vezes sei o que ele anda fazendo, outras não. Ele
nunca mais me disse estar com saudades e eu me apego a palavras que a barra de
rolagem leva adiante. Não, nunca estou indiferente. O meu desejo não está à
deriva, mas afrouxado.
Eu
me conformo com o dia a dia e com o amor que posso ter. A vida não é grande
coisa, nem pra mim nem pra ninguém.
Não
falo em amor, mas em uma certa necessidade de existir para além da vida comum e
por isso escrevo. Ninguém pode suprir o meu desejo para o fantástico e, assim,
fico o inventando em meu cotidiano.
Vou
enviar para ele todas os poemas que escrevi.
Eu
não tenho o direito. Eu não o tenho direito.
Então
é isso, estamos apartados. Não importam as palavras, ele sabe e eu sei que a
escolha foi pelo fim. Não foi surpreendente, foi medíocre. Do jeito que se
esperava desde o princípio. Surpreendente seria se tivéssemos nos permitido.
Te ler é sempre muito bom. Quanto talento pra juntar palavras ...
ResponderExcluirZélia
"Não suporto dias previsíveis, nem vida repetitiva. Quero ser arrebatada por algo incontrolável, que me tire do eixo e me torne outra, porque tem algo em mim que eu mesma não aguento."
Lindo e tormentoso, uauu...
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