Taiasmin Ohnmacht
Suponhamos que ele me
pegue. Quando criança, achava que as bonecas brincavam enquanto eu dormia.
Jamais consegui surpreendê-las em seus folguedos, mas a ideia de que muitas
coisas podem acontecer quando fecho os olhos nunca me abandonou.
Roberto
reclamava de minhas horas insones. Desconfiava de meu perambular noturno. Era
sentir que eu levantava da cama, para que ele parasse de roncar. Se eu ligasse
a luz, era briga certa. Sua ambição era subjugar meu ritmo biológico. Agora,
olho para o relógio e sinto um prazer extra em ver que são três horas da manhã
e a luz está acesa. Olho com deboche para cima da cômoda.
Acordada
sempre me surpreendo com o tamanho da noite e em nenhum outro momento me sinto
tão sozinha. O lado bom é que posso pensar tranquilamente em Cássio. Em meio
aos cobertores e travesseiros, eu me aninho no quentinho e penso em seu corpo.
O desenho da linha de encontro entre nuca e pescoço, as unhas arredondadas, a
forma dos joelhos marcando as calças. Durante todo o dia fico lutando para
dissimular meus olhares, mas agora não preciso. Nenhum colega de trabalho para
despistar. Essas horas são só minhas. E não há canto escuro no quarto.
Nunca
tenho saudade, ele não se foi como era o esperado. Tenho pensado até em
convidar Cássio para vir a minha casa e transarmos nesta cama. Quem sabe mato
Roberto em definitivo. Mas, e se no obscurecimento do prazer, enquanto meus
olhos forem só de Cássio, será que Roberto não irá se levantar das cinzas e
devorar nossos sexos para recompor a própria carne? Rapidamente olho para a
urna. Impressão minha ou se mexeu um pouco?
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