domingo, 9 de junho de 2013

CONTOS CURTOS

Taiasmin Ohnmacht
 
 
Em silêncio trabalhava.
Despesas, lucros, receitas líquidas e variáveis, ativo, passivo.
A nova assistente entrou na sala e alcançou-lhe os balancetes. Com o olhar, acompanhou sua saída. Depois, distraído, voltou aos cálculos:
1+1=2
 
 
II 
Janeiro
Carmela acordou e calçou o par de chinelos ao lado da cama. Com desânimo, levantou para mais um dia de trabalho.
            Abril
Ao lado da cama, dois pares de chinelos misturados. Carmela espreguiçou-se feliz. O relógio pedia pressa, mas ela resolveu ignorar.
            Novembro
Carmela amanheceu de uma noite mal dormida. A cama fria, grande e vazia. Sentou e calçou o chinelo.
 
 
III
 
Era preciso ser rápido e ter força. Trabalho pesado, suor e às vezes dor. Ele se esforçava para fazer o melhor, mas o reconhecimento do patrão era mirrado. Tudo por um prato de comida e um pedaço de chão. De qualquer modo, não conhecera outra vida e até gostava de andar na rua, é claro que não avaliou os riscos. As quatro patas fraturadas no meio do asfalto davam a dimensão da tragédia.
 
IV
 
 
Olhou o casal. Na precipitação, um guarda-chuva para dois. A ternura da cena evocou-lhe um vazio. Continuou seu caminho pisando em poças d’água, tentativa de afogar a certeza de um rompimento.
 
 
V
 
 
Conduziu bem sua vida. Amou, juntou bens, e até teve alguns desafetos. Quando chegou aos cinquenta anos, não mais violou, roubou, matou. Desfrutou bem de seus anos de aposentadoria. Era um homem bem sucedido.
                                                                           
 


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